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Vacina experimental pode inibir avanço de câncer de pâncreas e de intestino



Por Giulia Peruzzo | Folhapress
Foto: Fernando Ogura / Secom


Um estudo desenvolvido por pesquisadores da UCLA (Universidade da California em Los Angeles) em parceria com o hospital Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova York, testou uma vacina que se mostrou promissora para impedir que os cânceres de intestino e de pâncreas se espalhem em pacientes que já fizeram o tratamento principal.


Publicado na revista científica Nature Medicine, o artigo expõe os resultados da primeira fase dos estudos clínicos. Ou seja, trata-se de uma pesquisa inicial, com muitas etapas a serem seguidas até a comprovação de segurança e eficácia.


Para especialistas ouvidos pela reportagem, o resultado é promissor.


A vacina, chamada ELI-002 2P, atua para instruir o sistema imunológico a combater duas mutações KRAS (G12R e G12D), muito comuns em vários tipos de câncer, incluindo de pâncreas e de intestino. A proteína KRAS faz parte do grupo RAS, que inclui também NRAS e HRAS. Das três, a KRAS é a que se encontra de forma mais frequente no câncer, em aproximadamente 1 em cada 4 pacientes.


Líder do centro de referência de câncer colorretal do A.C. Camargo Cancer Center, o oncologista Samuel Aguiar —que não participou do estudo— explica que a mutação KRAS está envolvida na proliferação do tumor e nos quadros de metástase.


"Eles [pesquisadores do estudo] usaram KRAS porque essa é uma via muito comum para esses tumores. Quanto mais comum o alvo, mais fácil de você acertá-lo. Então a estratégia foi usar um alvo muito específico, porém bastante comum nesses dois tipos de cânceres."


Participaram do estudo 25 pacientes, sendo 20 com câncer de pâncreas e cinco com câncer colorretal, que receberam doses da vacina. Todos já haviam concluído o tratamento padrão e apresentavam doença residual mínima, ou seja, ainda apresentavam biomarcadores do câncer colorretal ou de pâncreas mesmo após o tratamento, seja cirurgia, quimioterapia ou radioterapia.


Thaís Moré Milan, doutoranda na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da USP (Universidade de São Paulo) com ênfase imunologia e fisiopatologia, que ficou um ano na UCLA estudando câncer —mas também não esteve envolvida neste estudo—, diz que o tipo de vacina escolhido é uma das vantagens da pesquisa. O imunizante é anfifílico, ou seja, projetado para chegar mais facilmente aos linfonodos, uma das vias de disseminação dos tumores.


"O peptídeo que eles criaram, que vai ficar na mutação KRAS, vai se ligar quimicamente a uma molécula lipídica que vai se ligar à albumina. E por que isso é importante? A albumina consegue circular facilmente e vai ser transportada diretamente para os linfonodos", afirma. A albumina é uma proteína que auxilia no transporte de substâncias como hormônios, vitaminas e medicamentos.


O oncologista do A.C. Camargo complementa: "O objetivo é treinar células imunológicas para combater não só tumores que se instalam nos linfonodos, mas em qualquer tipo de órgão, e no corpo todo".


À vacina os pesquisadores adicionaram um estímulo adjuvante que aumenta ainda mais a resposta imune. "Esse estímulo aumenta o ambiente pré-inflamatório e a ativação das células T", afirma Milan. As células T são células do sistema imunológico que ajudam a proteger o corpo contra doenças.


Os resultados indicam que 21 dos 25 pacientes (84%) tiveram uma resposta imune de células T específicas para a mutação KRAS, reduzindo significativamente os biomarcadores tumorais. Em 24% dos pacientes os biomarcadores associados ao tumor desapareceram completamente.


Outro ponto positivo é que a sobrevida dos pacientes aumentou e, ao final do estudo, a maioria ainda não havia apresentado recidiva.


Durante o tempo de acompanhamento —até dois anos após a primeira dose da vacina—, 17 pacientes (68%) atingiram o limiar de aumento de 9,17 vezes a resposta das células T, e 8 (32%) não o atingiram. Sete desses oito pacientes que não atingiram o limiar morreram.


Outro dado do estudo é que, em 67% dos pacientes testados, a vacina levou ao espalhamento de antígenos. Isso significa que a célula T não vai ter resposta só na vacina, mas também contra qualquer antígeno tumoral que estiver ali presente, explica Milan.


O estudo, porém, tem algumas limitações, como a pequena amostra de participantes e o curto período de acompanhamento dos pacientes após a administração da vacina. Ainda assim os especialistas afirmam que os resultados são promissores e podem embasar novos estudos com um número maior de participantes e por um tempo mais longo.


Na avaliação de Samuel Aguiar, o estudo é um passo importante para o desenvolvimento de outros tipos de vacina envolvendo mutações. "Porque a tecnologia já foi desenvolvida. Essa é a grande perspectiva desse estudo. É uma tecnologia que avança, abre caminho para outras terapias", diz.


Os pesquisadores atualmente trabalham em um estudo randomizado de fase 2 com uma nova formulação da vacina que mira sete variantes da mutação KRAS. A pesquisa é financiada pelo laboratório Elicio Therapeutics.

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