Por Folhapress

Foto: Divulgação / The White House
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chegou na tarde desta sexta-feira (11) ao centro do Texas, epicentro das enchentes que já mataram 121 pessoas e deixaram ao menos 170 desaparecidos, um desastre que tem rendido críticas a autoridades locais e federais.
O republicano e a primeira-dama, Melania Trump, foram a locais destruídos pelas cheias e conversaram com equipes de emergência e autoridades, que, por sua vez, buscaram reafirmar a capacidade de o estado lidar com as medidas para recuperação.
A imprensa americana e internacional não foi incluída na reunião fechada -foram autorizadas a entrada somente de autoridades, políticos e influenciadores pró-Trump que acompanharam a comitiva e elogiaram as respostas federal e local. Os influenciadores ainda aproveitaram a situação para criticar democratas e questionar o desempenho de seus governos.
Após o encontro, ao ser perguntado sobre a eficácia dos alertas meteorológicos, Trump afirmou que somente "uma pessoa muito má" questionaria a resposta que o governo tem dado às enchentes. "Acho que todos fizeram um trabalho incrível dadas as circunstâncias", disse o presidente.
"Não saia por aí apontando culpados", acrescentou o deputado Chip Roy, do Texas.
Trump afirmou que pretendia fazer a visita no início da semana, mas que decidiu esperar para "não atrapalhar ninguém". Nesta sexta, uma semana após a tragédia, milhares de socorristas ainda vasculhavam escombros lamacentos em busca dos desaparecidos, com esperanças quase nulas de encontrar sobreviventes.
"É uma coisa horrível", disse o republicano a jornalistas horas antes, ao deixar a Casa Branca rumo ao sul do país. "Ninguém consegue acreditar numa coisa dessas -tanta água, tão rápido." O avião presidencial dos EUA, o Air Force One, pousou na base aérea de Kelly Field, em San Antonio, no Texas, por volta do meio-dia.
No dia 4 de julho, feriado que celebra a independência dos EUA, mais de 30 centímetros de chuva caíram em menos de uma hora, uma tempestade que fez o rio Guadalupe subir para 10,4 metros em pouco tempo, inundando suas margens e arrastando árvores e estruturas pelo caminho.
Trata-se do desastre mais mortal dos quase seis meses de mandato do presidente republicano. Os mortos incluem pelo menos 36 crianças, muitas das quais estavam no Camp Mystic, um acampamento de verão cristão para meninas às margens do rio.
O presidente descreveu a enchente como um ato inevitável da natureza -"uma catástrofe de cem anos", como ele disse-, e elogiou o governador republicano Greg Abbott e outras lideranças locais pela resposta ao desastre. A reação das autoridades, porém, incluindo a de seu governo, vêm enfrentando intenso escrutínio, que inclui questionamentos sobre o que poderia ter sido feito para alertar a população.
Algumas das críticas mencionam cargos vagos em escritórios locais do NWS (Serviço Nacional de Meteorologia, na sigla em inglês) e da Fema (Agência Federal de Gestão de Emergências). De acordo com o jornal The Washington Post, o governo federal recuou da ideia de abolir a agência, que vinha sendo aventada havia meses.
Segundo um funcionário de alto escalão que falou com a publicação americana, nenhuma medida para encerrar o órgão foi tomada. Trump, por sua vez, tem evitado questionamentos sobre seus planos anteriores de reduzir ou extinguir a agência. "Conto isso em outra ocasião", afirmou ele na última terça (8).
No final do ano passado, autoridades do condado de Kerr, o local mais atingido, escreveram em relatório de 220 páginas para a Fema que era provável que a região sofresse uma inundação este ano, segundo reportagem do The New York Times. As enchentes representavam um perigo em especial para pessoas em "estruturas precárias", concluíram as autoridades, e uma solução para o problema seria instalar um sistema de alerta de enchentes que custaria até US$ 1 milhão -verba da qual o órgão dispunha.
O relatório foi redigido após anos de tentativas frustradas de garantir financiamento para tal sistema de alertas, segundo o jornal americano -foram identificadas pelo menos três ocasiões, de 2017 a 2024, em que autoridades locais buscaram financiamento para a tecnologia, mas foram rejeitadas pelo estado.
Em entrevista nesta quinta (10) ao programa Meet the Press, da emissora americana NBC, Trump pareceu apoiar qualquer nova iniciativa para instalar tais alarmes. "Depois de ver esse evento horrível, imagino que instalariam alarmes de alguma forma", disse ele.
Segundo especialistas, o governo Trump tem usado a estratégia de "nós contra eles" na resposta ao desastre com mais frequência do que qualquer outro presidente nos últimos tempos.
Em contraste com o apoio ao governador do Texas, um aliado do republicano, Trump teceu duras críticas aos democratas eleitos na Califórnia quando incêndios florestais devastaram Los Angeles, em janeiro. Enquanto as chamas ardiam, ele acusou o governador Gavin Newsom e a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, de "grave incompetência".
Meses depois, a Califórnia, bastião democrata, busca mais verbas federais para ajudar na recuperação da catástrofe -o Congresso, liderado pelos republicanos, ainda não liberou os US$ 40 bilhões em auxílio federal para recuperação de desastres solicitados por Newsom em fevereiro, por exemplo.
"Trump é excepcionalmente político", diz a consultora em gestão de emergências Claire Rubin. "O contraste no tratamento na Califórnia e no Texas pode ser o exemplo mais flagrante de como esses eventos são politizados."
Em resposta a essas críticas, a Casa Branca afirmou que Trump trata todos os estados da mesma forma, independentemente de suas tendências políticas.
"O presidente Trump liderou esforços históricos relacionados à recuperação de desastres tanto na Califórnia quanto na Carolina do Norte -e ele está fazendo o mesmo no Texas", disse a porta-voz da Casa Branca, Abigail Jackson. "Qualquer acusação de que o presidente está dando tratamento preferencial a certos estados não é apenas errada, é idiota e desinformada."